O Museu das Invasões

Emiliano Ferreira Dantas

O Museu das Invasões é uma longa pesquisa antirracista que se apresenta como uma proposta crítica destinada a despertar a consciência de que as imagens/fotografias produzem discursos de poder. Neste sentido, como podemos ler e interpretar imagens/fotografias feitas para representar o “outro” como exótico? 

Em um mundo onde a fotografia desempenha um papel fundamental na comunicação, seja na internet, em museus ou na publicidade, vivemos na era da superprodução diária de fotografias. Essa multiplicidade, por um lado, banaliza as imagens de violência, dor e sofrimento e, por outro lado, alimenta o capitalismo que dita como os corpos devem ser, o que convidamos a consumir e se somos considerados bonitos ou feios. Como proposta para criar outras narrativas, o Museu das Invasões se manifesta por meio de imagens, projeções, performances e ações artísticas que problematizam a banalização da dor do “outro” e a gênese da fotografia colonial como dominação das terras e dos corpos.

As fotografias utilizadas no Museu das Invasões estão associadas aos antigos livros de viajantes, como “Duas Viagens ao Brasil” do alemão Hans Staden, entre outros, que criaram imagens dos povos considerados “monstruosos”. A ideia é promover narrativas visuais que conectem o passado com o presente, misturando arte e antropologia, fotografia e desenhos, buscando uma estética dos afetos e investigando como o discurso do “eu” em oposição ao “outro” foi construído. 

Os múltiplos processos que as fotografias criaram em uma narrativa crítica foram baseados em arquivos:

Fotografias do fotógrafo berlinense Alberto Henschel (1827 – 1882), que esteve no Recife nos anos (1866-1882); 

Fotografias dos arquivos Municipal de São Tomé e Príncipe, arquivo Diamang Digital (Angola Região do Dundo) e arquivo Municipal de Cabo Verde; Fotografias contemporâneas do Brasil e São Tomé feitas por Emiliano Dantas. 

O Museu das Invasões é uma pesquisa iniciada em 2021 por meio da pesquisa de doutoramento intitulada: “A imagem enquanto leitura e escrita do Mundo: O leveve e a ferida colonial em São Tomé”. Enquanto atividade artística já rendeu um desdobramento que foi a instalação de cartas do mau encontro em 2022, no Museu do Aljube, em Lisboa. 

Emiliano Ferreira Dantas é doutor em Antropologia pelo Instituto Universitário de Lisboa/ISCTE-IUL, mestre em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco/UFPE e graduado em Comunicação Social com habilitação em Fotografia pelas Faculdades Integradas Barros Melo/AESO. No ISCTE foi professor assistente convidado nas disciplinas de Antropologia e Imagem na licenciatura de Antropologia e da disciplina de Laboratório na Pós-graduação em Culturas Visuais. Foi agraciado em 2022 com a bolsa de Circulação Internacional da Fundação Gulbenkian para lançar o seu livro Desenquadrando na Bienal Internacional de São Tomé e Príncipe. É pesquisador/artista residente da Start-up Cultural de Arruda dos Vinhos, onde desenvolve o projeto dos seus livros Desenquadrando e Arruda. Teve exposições de suas pesquisas antropológicas em museus do Brasil, Cuba, Portugal e São Tomé e Príncipe.

Palavras-chave: imagens; colonialismo; antirracismo