Sobre a Plataforma
What do walking, weaving, observing, singing, storytelling, drawing and writing have in common? The answer is that they all proceed along lines of one kind or another. (Ingold, T, Introduction. Lines. A Brief History, Routledge, 2007)
[O que andar, costurar, observar, cantar, narrar, desenhar e escrever têm em comum? A resposta é que todas elas se fazem com linhas de um tipo ou de outro.]
Grafia em linha é um arquivo digital, um ambiente habitado por um conjunto de pesquisadores que nele se reconheça e faz circular as suas atividades científicas-estéticas a outros, com o convite aberto para outras contribuições.
Grafia é substantivo no nome La’Grima – Laboratório Antropológico de Grafia e Imagem -, que abriga os pesquisadores que compuseram coletivamente esta plataforma, cuja proposta é desenvolver trabalhos que trazem grafias como modos de inscrição, expressão e evocação, como traços, rastros, composições entre palavras e imagens em suas mais diferentes formas (desenhos, fotografias, vídeos, gestos, objetos, bordados, performances, músicas, etc). Grafia também nos leva à descrição enquanto desafio – o desafio de Ingold naquele dado lançado: o de reunir Antropologia e Etnografia no neologismo Antropografia.
Ao traduzir a pesquisa de campo antropológica como uma “educação da atenção” do mundo que habitamos – aprender com as pessoas, como vêem, ouvem e sentem as coisas – e como documentação de vida, concepções, relações e tempo dos que nos hospedam, Tim Ingold também reafirma o suposto intrínseco à antropologia, isto é, o vínculo necessário com outros modos de conhecimento. O duplo compromisso da Antropologia e da Etnografia, assim reunidas, reata a descrição e a análise de mundos, os quais, ainda conforme Ingold, seriam mundos não classificados nem classificáveis, mas narrados e narráveis.
O nosso esforço é tornar as tags – os marcos da cartografia do ambiente digital também lugares de encontros, experimentações, descrições e narrativas, e não de classificações englobantes e fixas. As tags, aqui, são linhas que se abrem, transbordam, encontram outras direções possíveis. São “linhas de fuga” (Deleuze), “linhas de errância” (Deligny). O propósito principal das tags é criar relações, conexões, pôr as coisas em movimento, percorrer caminhos, recolher restos, acolher rastros, vislumbres, camadas, sombras, ruídos, lapsos. E, com isso, abrir para outros modos de ver, conhecer, fazer, narrar. Como diz Isabelle Stengers (2006, p.169), “fabular, narrar de outra maneira, não é romper com a
“realidade”, mas procurar tornar perceptível, fazer pensar e sentir aspectos dessa realidade que, usualmente, são considerados como acessórios”.
Grafia em linha pretende-se atos de encontros de pesquisas e composições, em que o modo de conhecer se dá pela imaginação e experimentação – relacionar ordens distintas de realidade; buscar o conhecimento social implícito, o mistério entre as coisas (Baudelaire); pôr em movimento; tornar vivo; dobrar e desdobrar-se.
Inspirado naquele encontro com os surfistas de que fala Deleuze, o convite é o de habitar as dobras – aqui, as dobras das grafias.